26 de maio de 2008

nazareth

Este é um dos nossos cantinhos preferidos no mundo, cheio de continhos e continhas.
Com muita música dentro do silêncio: o murmúrio do dia, as águas caindo em algum canto da mata, o vento soprando folhas, os bichos ao redor do sítio – vaca, cachorro, porco, cavalo, galinha. A rede range e a poeira aparece no ar, com a luz do sol.
Ali aprendemos que feijão não vem em sacas, mas em vagens fantásticas; que leite não sai de caixinha, mas da teta de vaca brava e grande; que galinhas botam ovos azuis e estes são especiais e encantados. Que a perna não vai cair de andarmos muito e que os acessórios da cidade aqui não tem valia nenhuma, ao contrário das roupas velhas e furadas. Depois de muito andar temos a visão da represa e quase ficamos sem fôlego, linda e azul celeste. Guerra de lama, saltos do alto do barranco - nadamos todos, com os cachorros e as crianças.
Lá sempre temos uma fome de leão. Até porque a comida demora a ficar pronta no ritmo do fogão à lenha - só dele – e por fim é maravilhosa, aproveitando do que é produzido no local: verduras e frutas, ovos e queijos. Catar lenha e fazer fumaça.
Lá é onde os adultos ficam horas despreocupados, sem nunca querer saber que horas são. As refeições duram uma eternidade, momento de confraternização de amigos, infinitos cafezinhos e deliciazinhas.
O tempo esfria rápido, quando o por do sol chega – e já aprendemos que sempre esfria.
O murmúrio da noite, zunidos de bichos, vaga lumes e aranhas cerzindo, latidos ao longe, mula sem cabeça, insetos desconhecidos. O escuro é o mais escuro do mundo dentro de casa e do lado de fora o céu é diferente: cheio de estrelas, muitas, infinitas. Caçamos vaga-lumes, depois que acostumamos a vista e perdemos o medo de correr na mata escura.
Lá brincamos com vela, com fogo, com fogão. Às vezes tem lampião. Em dia de festa, lanternas coloridas de papel, penduradas nas janelas. Nunca falta o violão e a cantoria sempre se faz mais alta em versos de improviso. Dançamos com nossas sombras. Dormimos em colchão de capim – exaustos e felizes.
E eu que sou do interior e queria ser da roça e faz tempo vivo na cidade, sou tão, tão, tão feliz neste canto de amigos, que acolhe minha pequena grande menina moleca desde pequena, graças a Deus e muito obrigada. Como a vida é boa em Nazareth, fala a verdade.

O dia em que fui mãe de anjo




cantando e gravando